NO PROJETO CINEMA E
FILOSOFIA O FILME EXPOSTO, NO 4º BIMESTRE, FOI "ESTAMIRA". (Subprojeto
Filosofia 1 do PIBID de Filosofia/UFPR no Colégio Estadual Santa Cândida)
As reflexões da Equipe
PIBID de Filosofia, composta por acadêmicos de Filosfia, professor do Ensino
Médio e Professor de Filosofia no Ensino Superior, compreende que na formação
de professores de filosofia existe uma dificuldade específica, ela pode ser
apresentada do seguinte modo: Como devidamente exercer filosofia no ambiente
escolar levando em consideração que a prática filosófica vai de encontro com o
ensino de um conhecimento técnico e programático? Partindo desse problema
inicial, entendemos que a estrutura e a metodologia da Filosofia no Ensino
Médio, por exemplo, apenas nos deixa evidente as dificuldades.
Se a filosofia
pressupõe um processo de reflexão e diálogo, como deveríamos estabelecer essa
prática em um ambiente que faz limitações ao diálogo com os alunos por meio de
aulas expositivas em que a fala dominante é a do professor? Percebemos um
contraste entre a filosofia e a educação escolar no ensino médio. Entendermos
que a filosofia, por meio de um processo reflexivo, deve buscar por
fundamentos, ou seja, deve buscar por aquilo que é inteligível frente às coisas
que vêm de encontro na experiência humana.
A respeito da educação no ensino
médio, compreendemos que o conteúdo apresentado aos alunos pode ser definido
como um conteúdo técnico, ou seja, conteúdos que por si mesmos não são capazes
de apresentar seus fundamentos, pois, esse conhecimento científico, é um
conjunto de representações reproduzidas por alunos e professores, sendo
possível concebê-las como "representações vazias". Por que
denominamos tal conteúdo como "representações vazias"? Porque o que é
apresentado aos alunos trata-se da representação de algo que não está dado. O
assunto da filosofia é justamente buscar aquilo que pode dar-se a si mesmo (Selbstgegebenheit),
o que está imediatamente dado.
Frente a essas
dificuldades, o projeto Filosofia 1, do PIBID, tem consciência de que seu
objetivo é exatamente fazer um esforço contra as dificuldades que se apresentam
e ir contra qualquer posicionamento que indique para a impossibilidade de
conciliar a Filosofia e seu ensino no Ensino Médio, pois esse seria um
posicionamento contraditório com a própria existência do PIBID de
filosofia.
Neste sentido, o debate em
torno do Filme Estamira, com alunos do Ensino Médio, possibilitou a realização
daquilo que se compreende como a razão da existência da Filosofia como
disciplina no Ensino Médio.
Os integrantes dessa
atividade acompanharam com mais precisão, ao longo do semestre, duas turmas do
Ensino Médio, sendo uma do terceiro ano e a outro do primeiro ano. A partir
desse acompanhamento tanto as turmas quanto os integrantes do PIBID puderam
desenvolver uma relação de familiarização. Sendo assim, foi possível compreender
as dinâmicas específicas de cada turma, nos deixando evidente suas formas de
comportamento. As duas turmas observadas foram escolhidas para participar da
primeira etapa do último Cine Debate.
O filme escolhido foi o
documentário Estamira (lançado em 2006), escrito e dirigido
por Marcos Prado. Por que o filme escolhido foi Estamira? O
documentário acompanha a vida de Estamira, uma mulher de 63 anos que trabalhou
por mais de 20 anos em um lixão do Rio de Janeiro. Ao longo do filme, mostra-se
evidente que Estamira tem um posicionamento filosófico frente a vida e como tal
posicionamento pode ser trazido para um diálogo com os ideais do projeto. Algum
dos apontamentos feitos pela protagonista do filme/documentário Estamira,
a respeito da educação. Como, por exemplo, de que a escola se
tornou um espaço para a produção da mera cópia do que está escrito nos livros,
cópia exercida não apenas pelos alunos, mas, também, pelos professores.
Interpretamos, a partir de um estudo feito sobre o filme, que Estamira está se
referindo exatamente ao fato de que a escola é um ambiente que apenas reproduz
algo que está totalmente afastado da realidade, tanto dos professores quanto
dos alunos, ou seja, repetem informações sobre algo que sequer entendem ou
conseguem ter alguma forma contato concreto que vá além de uma linguagem
técnica e sem fundamentos.
Neste sentido, a
personagem Estamira lança a questão do cientificismo dominante como
nocivo à vida, ao nos afastar da possibilidade de compreender nossa existência
e posicionamento frente ao que acontece e de nos iludir a respeito da verdade,
pois deixamos de acreditar naquilo em que vivemos e passamos a ter mais apreço
pelas coisas que não estão presentes.
Como relacionamos isso
com a Filosofia? Para a fenomenologia, como método propriamente filosófico, o
assunto da filosofia é sobre aquilo que está imediatamente dado por si mesmo.
Noções como a de mundo,
sujeito, coisa em si, são noções transcendentais e falar sobre aquilo que não
está intuído é uma característica comum das ciências naturais, assumir uma
atitude filosófica é exatamente reduzir essas transcendências e preconceitos
naturais buscando um posicionamento abordando somente aquilo que está evidente
e intuído.
A partir dessas
considerações, e muitos outros posicionamentos de Estamira, nosso objetivo foi
o de desenvolver um diálogo com os alunos, com a intenção de compreender em
conjunto o sentido da fala de Estamira. Nossa intenção foi de evitar qualquer
tipo de aula expositiva e transmissão de conteúdo, mas apenas buscar um fio
condutor que direcionasse tanto os alunos do colégio quanto os integrantes do
PIBID para uma reflexão a respeito do nosso cotidiano, como a escola.
Antes de o
filme ser apresentado, fizemos uma breve introdução apontando alguns pontos das
falas de Estamira que julgávamos ricos para a discussão que seria feita na
semana seguinte como : o "trocadilho", os "copiadores", o
homem enquanto "único condicional", o "além dos além", o
"controle remoto", entre outros. Também apontamos a dificuldade de se
interpretar as falas da protagonista, dificuldade esta que se apresenta em
qualquer contato com qualquer alteridade, mas que fica mais explicito no trato
com o não familiar, o que no fundo é o esforço de toda a filosofia, na medida
em que entendemos o familiar como as opiniões aceitas passivamente.
Na semana
seguinte, após ambas as turmas terem assistido ao filme, retornamos à escola e
conversamos com as turmas tendo o filme como ponto de partida, sem que ele
fosse nosso fim propriamente dito.
Inicialmente,
começamos a conversa com os alunos fazendo uma retomada dos apontamentos que
haviam sido feitos no encontro da semana anterior, a partir disso, tentamos
recolher todas as interpretações que os alunos fizeram a respeito de certos
“conceitos”. Após recolher as interpretações, que foram bem diversas, passamos
a tentar direcionar os alunos pelos posicionamentos que tivemos a respeito das
falas do filme, houveram dificuldades e certos embates de opiniões. Os temas
principais foram: Deus; ciência; escola; religião; filosofia; sociedade.
Nossa
intenção era antes a de conduzir uma conversa tendendo, sempre que possível,
para assuntos filosóficos, tendo em vista que estes estão mais presentes no
diálogo mesmo do que no “resultado” da conversa. Neste sentido, poder-se-ia
dizer que o conteúdo teórico deveria antes ser fornecido pelos próprios
alunos, na proporção que estes se vissem concernidos pelas questões que
surgissem, para então serem desenvolvidos. Nosso autor de referência foi
Friedrich Nietzsche e a obra "Assim falou Zaratustra".
RESULTADOS:
Nesse primeiro contato com os
alunos pudemos reconhecer alguns pontos que já havíamos previsto. Como
esperado, apenas uma pequena parcela demonstrou um interesse maior em
participar da conversa e uma parte destes estava realmente engajada em
tratar dos assuntos para os quais tendíamos. Que alguns comentários, senão a
maioria deles, fugissem do nosso objetivo não nos foi de todo inútil. Eles
serviram para representar as perspectivas que compunham a opinião dos alunos.
Tornou-se claro o desafio de nossa tarefa, uma vez que os alunos oscilavam
entre discursos, ora sociológicos, ora psicológicos, desafiando-nos para a
perspectiva que almejávamos representar: a filosófica.
Visto desse ângulo, foi possível concluir que os alunos de Ensino Médio estão dispostos a falar quando existem
pessoas dispostas a ouvi-los e não apenas ouvi-los, mas, também, buscar
compreendê-los.
A experiência de debate com o Filme
Estamira, possibilitou a percepção de que os alunos do Ensino Médio são plenamente
capazes de exercer um processo reflexivo independentemente do assunto em
questão.
(Equipe
PIBID Filosofia, redação Bruno e Pedro)